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quarta-feira, 8 de maio de 2013

[FEITO A MÃO] O Motivo de Sempre

Olá!
Todos sabem que existem muitos motivos para se mexer com as forças ocultas, mas na maioria das vezes, as mulheres utilizam a mesma razão que move exércitos, céus e mares: o amor.
É sobre ele que o conto de hoje fala.


O Motivo de Sempre

— É o que eu preciso, o fogo. O fogo e um pote.
Margarida levou Chica Gulosa até a área dos fundos e entregou-lhe o velho balde de aço e uma caixinha de fósforos longos. Ali naquele lugar se daria a mandinga.
— A mulher jovem não irá aturá-lo como tu aturou — Chica disse, com sua voz cansada, enquanto colocava as ervas dentro do balde. — Nenhuma atura. Ele não tem dinheiro, essa casa aqui é alugada...
— Mas, Mãe Chica, ele tem outros jeitos de prender uma mulher — Margarida respondeu, com a fala rápida. — Eu não suportaria ficar sem o meu Dwrvalino — disse, abanando-se com as mãos enquanto algumas lágrimas brilhavam.
— Não seja bobinha, Marga, mulher nova cansa rápido de homem mais velho. Além do mais, eles moram ali em Brasília. Não são nem vinte minutos de viagem.
— Eu sei, Mãe, mas... — a cara de choro deu lugar a uma expressão de desconfiança. — Calma aí, como tu sabe?
Chica Gulosa desviou o olhar para a mandinga que se fazia no balde: ervas, frutas vermelhas e fígado de cabra. Cru. Ela pegou a galinha d’Angola que trouxera do terreiro, lugar que até alguns anos antes de Jucelino chegar com seus candangos era um quilombo, e decapitou-a com um golpe certeiro da faca afiada. A cabeça caiu no chão e ela escorreu o sangue para o balde como uma garrafa de vinho tinto recém-aberta. Dizia palavras ininteligíveis.
— Todos no bairro sabem, uai, Dwrvalino disse pra Deus e o mundo que estava de saída para viver na Capital.
Margarida engoliu essa resposta meio de qualquer jeito e ficou observando a cabeça que ainda se debatia no chão. Chutou. Ela pareceu dar um último suspiro antes de fechar os olhos.
“Deve ser o calor e o cheiro desse troço” pensou.
— Agora vamos às instruções. Quando o fogo acender, inale e mentalize aquela cadela longe de Dwrvalino. Em três dias tudo se resolverá — Chica Gulosa prometeu.
— Simples assim?
A outra assentiu levemente com a cabeça.
— Antes que eu possa dizer Jucelino Kubitiéqui rápido e sete vezes, ele vai estar de volta. Faça, Mãe Chica.
Chica Gulosa virou-se de costas para ela e esboçou um sorriso riscando o fósforo. Soltou-o na mistura, uma chama verde-azulada subiu duas vezes o tamanho do balde chamuscando o teto.
Margarida chegou bem perto e inalou a fumaça, como Chica Gulosa mandara. Os olhos, unhas e língua ficaram negros, os cabelos secaram e a pele enrugou. Margarida tinha algumas rugas, mas sua aparência ficou a de uma mulher de trezentos anos que morou os últimos duzentos e cinquenta numa zona radioativa.
Mãe Chica? Ah, a velha Mãe Chica Gulosa... Essa foi recuperando a juventude, beleza e a pele delicadamente firme. Cabocla bela e formosa, Chica deixou Margarida se retorcendo no chão e atirou a mandinga pela casa.
Horas depois, quando o ônibus que pegou para Vitória passou pela estrada ao lado da casa de Margarida, as chamas verde-azuladas lambiam duas quadras de casas.


Fim.

Quer ver seu texto, conto, crônica ou poesia aqui no Feito a Mão, ou lá no nosso Tumblr? Envie seu material pra gente no nosso e-mail: contatonra@gmail.com.


até...

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4 comentários:

  1. SEN SA CIO NAL

    Amei.

    Fiquei arrepiada e confusa e então tudo fez sentido.

    Lindo.

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    Respostas
    1. Mentira, não lindo tipo "ooooh, que romantico". Lindo naquela vibe de surpreendente e bem escrito.

      Só não entendo qual é seu problema com nomes normais.

      (mas isso não chega a ser uma crítica)

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    2. Se tem uma coisa que amo é criar nomes! hahaha
      Mas admito que Dwrvalino foi meio pesado, hauahuahau!

      O melhor é que fiz em uma página de Word.

      Arrepiada? =O

      até...

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