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domingo, 16 de junho de 2013

[FEITO A MÃO] Deixe-me voltar a você, Parte Um

Primeira parte do ultimo de uma série de "partes de conto" para o Dia dos Namorados, começando por "Sorvete de Menta" como introdução da história, "Contando de um até dez" como o começo do fim e este conto aqui ("Deixe-me voltar à você") sendo o fim em si :) Os contos falavam sobre uma adolescente peculiar chamada Estela, a qual vive tanto no mundo real como no mundo da Lua, também amiga de duas meninas com características únicas. Estela, por ainda não sentir necessidade, não chegava a se ver apaixonada por ninguém. Não que ela não conhecia o significado de romance, através da imaginação. Porém, eventualmente em um shopping e provando um sorvete (um forte hábito seu), a garota e suas amigas encontraram alguém que faria um sutil impacto.

Deixe-me voltar a você - Parte I


   Quando era menor, minha mãe costumava contar histórias antes que eu dormisse. Aquilo seria ajuda precisa para que, no quarto sem luz, conseguisse lutar contra meus próprios monstros debaixo da cama. Apenas precisávamos que ela – ou meu pai, quando este possuísse uma inesperada vontade – só pegasse uma das obras infantis que haviam depositado em uma estante, a fim de que fosse para ler para meus ouvidos. Assim, minha mente captava coragem para poder ter menos medo sobre algumas coisas da vida que, ao menos agora, se tornaram bobas.
   Porém, em uma dessas noites que faziam frio nos meus pés, papai adoecera no meio do trabalho. Uns dias antes de saber, já o notava com uma fisionomia mais pálida do que antes. Confirmei apenas no dia seguinte, pois mamãe se viu obrigada a sair enquanto meu corpo dormia. Ao abrir meus olhos, notando que não ouvira uma história e pronta para perguntar por uma, visei um bilhete em cima da mesa da cozinha dizendo que meus pais voltariam um pouco tarde.
   Lembro ter me esgueirado, entre os lençóis, com meu fiel companheiro (meu ursinho de pelúcia) ao meu lado. Sem meu pai e sem minha mãe, o ar-condicionado parecia estar nas alturas e tive que me envolver com o cobertor para poder me levantar. Só então, pude sair dali a passos lentos, e com minha visão meio sonsa, até a uma estante no quarto deles. Tive que erguer meu queixo para ver, o ursinho em minha mão direita para encará-la também com seus olhinhos negros, e dei meia volta para percorrer toda a extensão da residência... Até arranjar um banquinho.
   Peguei o livro que queria – um de capa dura e rosado, bem antigo –, desci e capotei, com o objeto entre meus braços, na cama. Abri onde mamãe havia parado no dia anterior e meus olhos começaram a tentar ler as palavras. No entanto, existia ali uma sequência de imagens de riscos suaves que se prendia à minha memória.
   Era a história de uma revolucionária, em uma época difícil de guerras, que tentava lutar, junto com simpatizantes de suas ideias faladas em suas viagens de balão, pelas condições de vida de uma população que ia à custa de um governo com mentes que queriam forçar a ideologia pátria. Assim como havia pessoas que gostavam dela, existia aqueles que ignoravam ou desgostavam. Desta forma, a adolescente fizera, ao tentar abrir mentes, inimigos.
   Em um belo dia, descendo próximo de um porto, a menina recebeu um tiro perto do peito e seu corpo caiu no chão. Não morto, pois, por pouco, não atingira um ponto crítico. No entanto, uma poça de sangue se fazia em torno dela enquanto seus olhos se dirigiam por socorro. Uma multidão a rodou, assistindo àquele sofrimento e dizendo para que alguém – qualquer pessoa – a ajudasse. Então, pronunciou-se um homem, um dos participantes da Marinha que rodavam aquele lugar, e este a retirou gentilmente do chão e passou a locomovê-la até a algum centro de saúde. Após isto, pousou-a, com ajuda de familiares, na cama desocupada em sua casa para que esta pudesse se recuperar.
   Foram três semanas e quatro dias que a garota pôde sobreviver a mais. Embora os ferimentos conseguissem se cicatrizar, não poderiam dizer que ela estava livre de infecções que eram comuns no porto. Tomava sopa quente, alguns remédios (muitos deles com gostos estranhos) e seus banhos tinham que ser guiados por uma das irmãs do marinheiro. Com o tempo, não conseguia mais andar e tudo indicava que, seja lá o que fosse o ‘além da matéria’, estaria vindo.
   O moço se sentia triste, pois, nas vezes em observou-a e trocou algumas palavras com ela, tinha a impressão de que seu coração era cada vez mais cativado pela moça. E chegou a um ponto onde a possibilidade de estar apaixonado se tornava mais do que um ‘e se?’. Para mim, era complicado ver aquelas figuras – principalmente, os desenhos – e então compreender as palavras, as quais tinham uma narração em que fazia a conexão personagem e leitor se tornar perigosamente estreita. Digo isso por já presenciar compaixão pelos dois. Principalmente quando ela revela sobre as ideias, depois de ouvi-lo algumas vezes, lendo os jornais críticos, desgostando de seus pensamentos sem saber que era a pessoa quem repousava na cama.
   Isto havia sido um dia antes dela morrer. Criei uma suposição de que a garota sabia que não teria mais tempo para falar sobre o que sentia. E sobre aquela revelação ser um choque para o moço, quem segurou a mão dela até a menina dormir para sempre e ele se lamentou sobre não tê-la conhecido antes.
   Com o pensamento do por quê (o que a história dizia ser) amor doía, demorei a dormir. Três dias seguintes, quando meu pai – quem estava de cama – se recuperava de seu “dodói” e minha mãe estava em casa, fui até a cozinha (onde ela se encontrava) após acordar e questionei com minha boca já higienizada:
— Mãe, — eu disse. — amar dói?
— Por quê a pergunta, querida? — ela se virou com um prato em mãos.
— Eu li em um livro que quando duas pessoas se amam, — tentei explicar. — elas acabam sentindo dor. Isso é verdade? — questionei, levantando meu olhar para analisa-la.
— Você ainda é nova demais para se preocupar com essas coisas. — mamãe riu. — Mas é verdade que amar dói... — uma expressão de incerteza se apoderou de seu rosto. — Um pouco.
— Será que é melhor amar pouco pra doer pouco? — olhei para o ursinho que ainda segurava.
— Nós amamos sempre, Estela, — falou minha mãe. — desde que gostamos de uma pessoa. Seja eu, seja você, seja seu pai, seja um amigo... — suspirou, pousando, de leve, o dedo no meu peito. — Eles vão estar sempre aí.
— Como é que eles estão aqui? — olhei para baixo. — Eu sou muito pequenininha.
— Acho que você vai descobrir que isso é um modo de falar. — mamãe deu uma piscadela.
      Em resumo, hoje está sendo um dia consideravelmente bacana. O pai de Stephanie veio com o irmãozinho dela, os dois nos cumprimentando no ponto de encontro que nós quatro – eu, Melissa chamando atenção com seu chapéu e jeito excêntrico, nossa amiga de óculos e o estranho quieto (Leo?) do shopping – havíamos combinado em um rápido bate-papo decisivo. Quando interrogado quem era a pessoa nova, as duas jogaram a responsabilidade na minha paciência ao dizerem “Ah, é um amigo da Estela” como se meus amigos homens multiplicassem feito cogumelos e a desculpa fosse bem natural.
— Ele é mesmo só seu amigo? — assim como a irmã, o menino também tinha óculos e um ar de “sei de muitas coisas”. — É difícil de imaginar. Você, minha irmã e aquela louca são tão...
— Grudadas? — Stephanie tentou adivinhar com o dinheiro do ingresso posto no bolso.
— Isso. — o irmão assentiu com a cabeça. — Engraçado é imaginar vocês namorando.
— Já estou acostumada com ironias. — Melissa passou as mãos pelos cabelos em uma pose comum em comerciais, fazendo um sorriso brotar em meu rosto e um rolar de olhos nos irmãos. — Não preciso ter um estado especifico, criança, tenho várias coisas e pessoas para amar. — pôs os braços por baixo dos meus e dos de Stephanie, beijando nossas bochechas.
— Só para constar, — a mais baixa de nós três suspirou cansada. — só caso com a Ciência.
— E pesquisas cientificas, descobertas e... — Melissa sorriu largo. — garotos cientistas.
— Olha, — acostumado com a rotineira vista ou relato sobre nossa querida amiga, o pai de Stephanie lançou um breve olhar de reprovação. — o pai da cientista está ouvindo vocês.
— Falando em pais, — como se a advertência fosse flores, Melissa rodou sob si mesma, em seu vestido verde, para nos encarar. — alguém aí não vai poder ser transportado para casa?
— Leonardo, — Stephanie espiou o menino, quem ocasionalmente lançava uns olhares de curiosidade sob a gente (alguns deles percebi direcionados para mim) e assobiava baixinho, e continuou. — você não nos disse sobre a amiga estar perdida pelo shopping?
— Estou preocupada que talvez ela tenha se distanciado e você não possa a encontrar. — relembrando-me sobre esse ponto, comentei com ele ao vê-lo com uma expressão calma.
— Não é possível ela ter se perdido. — Leo respondeu com suavidade. — Minha amiga costuma ficar em lugares com muitas pessoas e nunca fugir até a Lua chegar.
— Até a Lua chegar? — o pai de Stephanie quis saber. — Vocês possuem algum celular?
— Celular? — o garoto fez uma careta de confusão. — O que é isso? Já vi, mas...
— Esquece. — Melissa deu uma risadinha, pousando uma de suas mãos no ombro dele. — Não será necessário um. — após receber um olhar inocente de Leo, ela sorriu gentil. — Você consegue assegurar que está tudo bem ir conosco ao cinema? — e retirou o toque.
— E onde estão seus pais? — Stephanie arqueou uma sobrancelha. — Eles sabem daqui?
— Meus pais? — observamos ele passar a mão pelo rosto, como tentasse se lembrar de algo. — Não os vejo por um bom longo tempo, sabe? Só tenho ficado com minhas amigas.
— Amigas? — eu, o irmão da Stephanie e a própria repetimos meio assustados.
— Você vive nas casas delas? — o pai estranhou a fala do garoto, quem permaneceu sério.
— Não, é uma casa só. — andávamos enquanto conversávamos, passando por muitas vitrines. — Apesar de não ver meus pais, estou muito bem com elas. Elas são minhas irmãzinhas.
   Com aquelas informações, minha mente se tornou um caos ao tentar imaginar o cenário. Não sabia se era algo inocente ou algo de exploração. Mas a expressão no rosto dele me parecia bem feliz, sem falar sobre o jeito de Leo ter me lembrado a de uma criancinha que não entende algumas coisas. Por conta disso, o pai de Stephanie chegou a estranhar a figura em primeiro instante. Depois, acabou se acostumando um pouco, como o restante de nós todos.
   Pensando aqui, deparo-me, assim que acordo para a realidade das luzes berrantes e pessoas diversas andando por essas bandas, que estou me distanciando do resto do grupo. São alguns metros de distância com as meninas debatendo ideias com o guri e o homem apenas os acompanhando como o responsável, mas me choco sobre minhas divagações me levarem a retardar meu movimento tanto assim. Quando viro para os lados, a fim de ver onde me encontro, vejo que Leo está a alguns passos à minha direita com o olhar divagador e vago.
   De repente, há um burburinho compassivo em minha cabeça antes que, em uma fração de minuto, o shopping suma para dar um espaço para um extenso campo de plantas coloridas. Após a troca de imagens para as urbanas, tenho uma sensação de dor de cabeça e sinto uma leve pressão perto da minha orelha esquerda que parece me sossegar um pouco.
CONTINUA...
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