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terça-feira, 18 de junho de 2013

[FEITO A MÃO] Deixe-me voltar à você, Parte Dois

Segunda parte do ultimo de uma série de "partes de conto" para o Dia dos Namorados, começando por "Sorvete de Menta" como introdução da história, "Contando de um até dez" como o começo do fim e este conto aqui ("Deixe-me voltar à você", primeira parte e esta segunda parte) sendo o fim em si :) Os contos falavam sobre uma adolescente peculiar chamada Estela, a qual vive tanto no mundo real como no mundo da Lua, também amiga de duas meninas com características únicas. Estela, por ainda não sentir necessidade, não chegara a se ver apaixonada por ninguém. Não que ela não conhecia o significado de romance, através da imaginação. Porém, eventualmente em um shopping e provando um sorvete (um forte hábito seu), a garota e suas amigas encontraram alguém que faria um sutil impacto.


Deixe-me voltar à você - Parte II



— Você está bem? — é o que Leonardo me questiona com preocupação. — Tá pálida...
   Ele tinha virado meu corpo de frente para o dele – braços nos distanciando, é claro – e pôs as mãos nos lados do meu rosto só para me afagar no cabelo e olhar desconfortavelmente meus olhos como se fosse um médico com aqueles aparelhinhos de vistoria. Então, minha sensação é de “ah, estou beleza”, contudo tive uma impressão muito forte de ter, por um ímpeto, passado por um cenário de alta qualidade em terceira dimensão e... Não acho que seja verdade, mas alguma coisa me conta que não estou vendo... Bem, coisas.
 — Estou pálida? — faço uma cara confusa, tombando levemente minha cabeça de lado para poder franzir os lábios ao fitar para baixo e logo o olho de volta. — Virei vampira?
— Não sei. — ele só me encara estoico. — Você tem vontade de beber sangue ou tem sede?
— Hum, vejamos... — levanto meu rosto para cima. — Talvez um sorvete de uva vá cair bem.
— Vampiros não tomam sorvetes. — Leo me diz com um sorriso. — Se é isso, você é humana.
— Mas você também nem parece um humano. — espio-o pelo canto dos olhos, vendo-o me encarar sem entender: não posso culpá-lo se, algumas vezes, meu cérebro sai da realidade e minha boca acaba falando coisas que pessoas sob a ilusão do que é comum ou normal não compreenderiam. — E nem tem cara de ser um vampiro também, a menos que brilhe.
— Se você está falando do vampiro que vi naquele filme, — as mãos dele vão para os bolsos da calça. — não sou também aquele tipo de vampiro. — e suspira, apoiando-se nos vãos onde a gente pode ver o andar de baixo. — Fora isso, na minha casa, é proibido beber sangue.
— Proibido beber sangue? — engulo em seco ao ouvir a naturalidade. — Como assim?
— O sangue dos animais é sagrado para minhas amigas. — olha-me, ainda se apoiando ali.
— Então, você é vegetariano? — pergunto ao vê-lo encarar a samambaia próxima.
— Vegetariano é quem come plantas? — questiona ele, ao que confirmo. — Sou.
— E você mora por aqui? — vejo-o se aproximar de mim e então caminhamos.
— Moro aqui no shopping mesmo. — andamos pela rota até o cinema.
— Não seria o bairro? — tento fazê-lo lembrar, vendo o sorriso dele sumir.
— Ei! — ele me dá uma leve cotovelada sem avisar, quase me matando de susto. — O que é um bairro? — e seus olhos verdes brilham em urgência na minha direção.
— É... — acaricio meu queixo ao pendular meu peso de um lado para o outro. — É onde está o shopping. — ergo meu olhar para fitá-lo de modo assegurou, recebendo uma curva em troca.
— Então é onde eu fico. — estranho a forma como ele diz, mas tudo bem.
   Encaminhamo-nos por este piso de pedras vermelhas e entre vidros com amostras de doces, joias, roupas, sapatos e um monte de coisas imagináveis. Escadas rolantes podemos ver, andando meio quilometro, de relance. É comum vermos pessoas nos bancos com embalagens de presentes, outras sozinhas com seus amigos e umas beijando outras. Para mim, são visões legais, embora não sinta uma vontade de estar com outra pessoa só para me sentir bem. Consigo ainda ouvir um barulho peculiar dentro da minha cabeça – e algumas faíscas também – como se discordasse disso. Respiro fundo, fecho os olhos e conto até dez para tentar me acalmar. Talvez eu esteja comprando doce demais.
   E, como se a palavra “doce” fosse mágica, sinto minha barriga um pouco trêmula. Acho que posso estar corando, pois há uma cócega próxima do meu peito que indica que estou nervosa. Não acredito que o sorvete de menta não foi o suficiente para saciar minha fome. Estamos a poucos metros de encontrar o cinema, então mordo meu lábio inferior. O que eu faço, o que eu faço? Em resposta, meu estômago ronca, minhas mãos o escondem e viro meu olhar para Leo.
— Fome? — ao menos, ele me compreende agora. — Sinto cheiro de algo salgado ali.
— Pipoca não vai adiantar. — digo, também sentindo o cheiro. — Preciso de sorvete.
— Por quê sorvete? — após piscar os olhos várias vezes, ele me pergunta.
— Sorvete faz tudo ficar melhor. — dou-me de ombros, gesticulando para cima. — E vi alguns sabores legais naquela sorveteria em que fui.  — concentro-me em um plano, bato o pé no chão pela agitação que se instala em meus neurônios e uma ideia surge. — Olha, me escuta.
    Não desejo vê-lo perdido ao tentar encontrar meus amigos, então sinalizo o caminho de volta com detalhes. Digo que vou achá-los em breve, assim que resolver o caso ‘sorvete de uva’, e em pouco tempo. Se fosse correndo de um lugar para o outro, não demoraria mais do que dez minutos. Observo-o ficar parado enquanto conto o que ele poderia falar, logo aceno um “até logo, vou ali e volto” e ponho meus tênis para ir o mais rápido que posso.
    Nunca fui muito boa nisto. Em comparação a muitas pessoas – incluindo Melissa e Stephanie –, sou considerada meio lerda. Meus joelhos cansam, paro muitas vezes e tenho que esperar um ou dois minutos para prosseguir. No entanto, assim que faço a segunda parada próxima de um dos corredores que levavam à praça de alimentação, tenho a impressão de que meus sentidos estão extremamente apurados. Os ruídos da minha mente e os ocasionais lampejos verdes param, mas consigo ouvir várias vozes (próximas e distantes ao mesmo tempo). Quando ponho a mão na testa, tentando me sossegar, e volto a correr... Parece que posso sentir o vento percorrer mais rápido e os pés tomarem um impulso não meu para saltarem mais alto.
   Ao chegar na entrada da sorveteria, pareço ter perdido um pouco do meu fôlego. Ergo minha cabeça para enxergar dois jovens conversando, entre si, bem animados. Um é Adriano, quem noto sorrir de uma maneira que não aparenta ser um procurado de polícia, e a outra é uma garota de cabelos róseos berrantes e dentes com aparelho azulado. Não enxergo bem a placa do nome dela – uma parte dele tá todo sujo –, mas a letra inicial vejo ser um ‘E’.
— Aah! — a moça sorri, virando seu corpo para mim, enquanto o outro apenas me encara meio... Assustado? Não está usando seu boné de funcionário, somente seu uniforme, então posso bem notar que algo nas feições do rosto é familiar e há uma coloração clara (azulada ou esverdeada?) em seus olhos. — Sejam bem-vindos, vocês dois, o que desejam?
    Mudo minha atenção para ela, confusa sobre a primeira pessoa no plural... Como assim?
— Eu não quero nada não. — ouço uma voz negar gentil. — Mas ela quer um sorvete de uva.
— De onde você brotou... — quase falo sem pensar ao ver Leonardo bem ao meu lado, andando tranquilamente pela cerâmica da sorveteria como estivéssemos entre quatro aquários e não paredes. — Não havia te dito para ir atrás delas para não ficar sozinho? — bufo.
— Eu sei. — o olhar dele quase diz “me desculpe?”. — Mas eu achei melhor te seguir.
   Encaro-o por um minuto. É sério que ele diz isso como não fosse uma coisa meio... estranha? Acho que talvez, apenas talvez, eu tenha ganho um stalker... E fico paralisada.
— Tudo bem... — suspiro, tentando esquecer e logo alerto: — Você. Não. Saia. De. Perto.
    O garoto apenas me fita – nem dizendo sim, tampouco não – com complacência. Ao me aproximar da bancada onde há os sorvetes, pego umas quatro colheres (além de um pouco de balinhas de limão que comprarei) e as ponho em um pote azul de plástico. Aproximo-me da bancada, com a moça de cabelos rosados, e peso o doce para a máquina calcular o preço. “Dezesseis reais”, diz ela após teclar um pouco. Dou o dinheiro, antes de espiar Leo passeando pela área ao enxergar os quadros expostos nas paredes, e me viro para poder ir.
— Falando nisso, — um brilho surge na minha, fazendo-me voltar. — onde está Adriano?
— Adriano? — há um tom de dúvida mais do que simplesmente querer confirmar. — Ah, você está falando do garoto que estava comigo a um tempo atrás? — ela sorri em compreensão.
— Esse mesmo. — falo curiosa, várias ideias de identidades na minha mente. — Ele é alguma espécie de criminoso internacional? Se for, pode dizer, conto pra ninguém! E pra onde ele foi?
— Aquele rapaz? — a moça dá uma risada aberta, antes de se encostar-se a um canto, tampar a boca e fechar os olhos para segurar o riso: após tudo isso, ela me vê e sorri divertida. — Olha, não posso te contar que ele é alguém que machucaria uma formiga... Mas eu posso contar que ele foi lá para a cozinha e... — seu rosto se contorce em uma careta. — Meio que não pode sair de lá. — neste momento, Leonardo aparece ao meu lado.
— Engraçado. — ele fala. — Eu acho que senti a presença engraçada de alguém.
— Vocês dois... — tenho que me virar de voltar para ela, pois eu o estava encarando sem compreender quem era engraçado ou sobre o que Leo estava falando, e a vejo com uma mão apoiada no queixo e o corpo indicado na mesa. — Me lembram de quando eu era uma menina.
— Ué. — estranha Leo. — Mas você não é uma menina? Que nem ela. — e aponta pra mim.
— Ah, não sou mais. — ela dá risada. — Terminarei meu curso de Engenharia.
   “Engenharia?”, questiono-me mentalmente ao me recordar de cálculos de Matemática e alguns que estou aprendendo sobre Física. Não que alguma profissão não seja importante, mas possuo um sonho de, desde criança, me tornar parte da Marinha. É difícil explicar porquê, contudo, posso dizer que seria um encanto. Eu bem poderia trabalhar bastante fora da minha cidade. E provavelmente não passar por este shopping, apenas visitar minha casa distante.
— Além disso, meio que estou noiva. — ela continua a falar, pensativa ao se endireitar e fitar o nada. — Se bem que está sendo difícil ver se casaremos. Mas vocês me lembram quando o conheci quando criança. — ao notar nossos olhares, um sorriso dela se alarga. — Aqui mesmo... Tão doce antes, mas hoje anda meio rabugento... — seu sorriso se entortou em ironia. — Mas, considerando o meu tempo, não o culpo.
— Você fala de Adriano? — pego uma colherzinha para cravá-la no sorvete e saborea-lo.
— Adriano? — não ouço surpresa, apenas uma leve indignação. — Não. Na verdade, ele já me contou tantos nomes, mas nenhum deles é o real. Me pergunto se até ele sabe o verdadeiro.
— Por quê você é “meio noiva” dele, então? — retruco, antes de ver a cara confusa de Leo.
Amor é uma loucura. — a moça assobia, olhando de mim para ele. — Um dia, vocês vão experimentar isso, estou certa. Mas tomem cuidado se vocês se apaixonarem: pode surgir uma fada que roubará seus nomes para forçar vocês a ficarem presos em um mundo de ilusões. — um sorriso aparece no seu rosto e sinto um aperto de Leo na manga da minha roupa, como quisesse ir embora. — Não que todas as fadas tentarão isso. — viro-me, preocupada, para avistar Leonardo a encarando com o que acho ser medo. — Não que eu fale a verdade.
— As suas amigas devem estar nos esperando. — ele me diz como me implorasse para sair.
— Tudo bem. — falo, estranhando os dois, antes de me despedir dela e me virar de costas.
    No entanto, assim que volto a tentar olhar no exato lugar onde se encontrava a loja... Não vejo nenhuma. É um espaço fechado com o aviso, no lado de fora, dizendo “em construção”. Questiono a Leo sobre isso, mas ele só me dá um olhar confuso e diz que visitamos nada ali. Aponto o sorvete, querendo falar que estávamos mesmo e naquele lugar. Há um ar trêmulo de medo nele ao me comunicar que formos a uma sorveteria no cinema e que, por acaso, Leonardo me vira perambulando até a praça de alimentação.
    O que eu procurava? Jurava que vimos a tal loja! Sinto como hoje tem sido real!
   Para começar, onde Adriano foi? E o que é tudo isso? ...Que coisas mais... bizarras...
NUNCA TERMINA
FIM
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