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segunda-feira, 8 de julho de 2013

[FEITO A MÃO] Testemunha: A Nação

Olá!
Hoje eu vim contar pra vocês a história de um autor de novelas que decidiu matar uma personagem querida por todos.
Mas todos mesmo.
Agora o Brasil inteiro quer a sofredora de volta.
Será que nosso autor se safa?

Testemunha: A Nação

— Foi uma missão impossível chegar aqui hoje — disse o homem de uns quarenta anos, largando a mochila sobre uma mesa e jogando-se no sofá.
Cada pessoa que passava por ele fazia a mesma pergunta. Ninguém acreditava que ele fizera aquilo. Mas já estava certo, desde o ano anterior, que aquilo aconteceria.
Seu assistente Horácio, a faxineira, o porteiro, e mais umas dez pessoas invadiram a sala onde ele se enfiara. Não conseguiu trancar a porta antes que a pequena comitiva entrasse.
As mesmas perguntas. A mesma confusão da rua. Ninguém acreditava, queriam que revertesse.
Passou a mão pelos cabelos castanhos, ainda não notara que a cabeça já começava a ser salpicada de neve precocemente.
— Calados! Eu faço o que bem entender e ninguém pode mudar! — exclamou, irritado.
— Como teve coragem de fazer isso com a pobre coitada?! — a faxineira perguntou, exasperada, na opinião dela fora o maior pecado da terra. — Logo agora que a pobrezinha tinha encontrado o verdadeiro amor.
— Lucrécio, eu te disse que não era uma boa ideia — Horácio lhe falou, por entre dentes, perto do ouvido. — Os diretores querem falar contigo. A imprensa e o povo querem o teu fígado e a tua cabeça numa bandeja!
Ninguém notou, mas no meio da confusão, Fidalgo Duarte entrara na sala.
— Por que a matou?— perguntou, com seu timbre inconfundível de chefe poderoso. Caiu o silêncio. — “Vida Sofrida” vinha crescendo na audiência por causa da história sofrida de Cassilda Freire. Mulher pobre, vence na vida, mas continua humilde e boa, é enganada pelo ex-namorado do colégio. Porém! — ergueu o indicador, todos pularam com a exclamação desnecessária e teatral. Os olhos brilhavam, como se sofresse. — Encontra o Gurgel, o homem que toda mulher pediu a Deus. Por que a matou, senhor Lucrécio Pimentel?
— Doutor Fidalgo, estava na sinopse que o senhor mesmo aprovou — pela primeira vez desde o capítulo fora ao ar, na noite passada, Pimentel estava assustado. — Eu não conseguia ver futuro para ela. Ora, a cabeça dos autores é assim: quando se cisma de matar uma personagem, a vida daquela personagem só é visível até o momento final. Não se pode agradar toda a audiência.
— Mas quando a maioria da audiência só assiste por conta daquela personagem, senhor autor, mantém-se! — esbravejou. Logo um sorriso canalha surgiu no rosto do diretor de programação. — Tenha consciência de que a história foi comprada por este canal. E Cassilda Freire estará de volta semana que vem. Com o senhor Lucrécio Pimentel, autor-titular, empregado e escrevendo a sua novela. Ou não.
Saiu desejando “bom dia” a todos.
Não havia remédio para Lucrécio. Cassilda iria voltar para se vingar da grande vilã e ajudar a mocinha a ter um final feliz.

Fim.
Quer participar do feito a mão? Tem espaço pra você! Envie seu conto para contatonra@gmail.com ou publique seu desenho/poema no nosso tumblr! Quem sabe na próxima não é você recebendo os comentários!

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