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sábado, 15 de fevereiro de 2014

[LEITOR CONVIDADO] A palavra é o próprio homem



Imagem: Reprodução/Canção Nova

O texto deste sábado foi enviado pela leitora Beatriz Moraes da cidade de Osasco do estado de São Paulo, quem escreve poemas desde seus dez anos e que, desde seus doze, levou seu hábito de criar histórias de ficção mais à sério (você também pode conferir outros textos da autora por aqui: http://www.wattpad.com/user/BiaMoraes). Para os curiosos (aproveitem e deem uma lida, é muito bom!), o textinho tem em seu começo a seguinte citação:

“A palavra é o próprio homem. Somos feitos de palavras. Elas são nossa única realidade ou, pelo menos, o único testemunho de nossa realidade".
Octavio Paz


A PALAVRA É O PRÓPRIO HOMEM


Cada som é uma consoante na escassa sentença da vida. A luz, por sua vez, tornou-se nossa indispensável vogal. Nesta língua tão infinita, não há palavras sem vogais. Você poderia imaginar que cinco letras não haviam de ter mais importância que o restante do alfabeto porque isto seria injusto com as outras... Bom, quem rege o universo resolveu não pensar assim. O valor que se dá a cada uma delas não advém da quantidade de vezes que é requerida.
Assim como a luz e o som. Não há favoritismo. Eles simplesmente são necessários, por diferentes e irrefutáveis razões.
Quando pensamos no pano de fundo do nosso universo — a galáxia a quem pertencemos, ao sistema celestial que nos governa — a luz é o que nos vem primeiro a mente. Ela é a nossa fonte de vida, ainda que indiretamente. Talvez o sol, no momento de seu nascimento, não tivesse o propósito de alimentar criaturas como nós, seres humanos tão contrariados e pouco sensatos. Quem sabe ele só quisesse luzir porque é isso que ele sabe fazer, sem nenhum propósito maior, sem grandes intenções. Ele é um herói acidental, por assim dizer, bem como todo o resto de conjunto de estrelas. Já não sei minhas razões de glorificá-lo, porém... Como descrer em sua valentia? O sol, ao contrário de muitos de nós, não tem medo de brilhar.
Ele se permite este deleite.
Já o som, por sua vez, é um mistério delicioso. Não se propaga no vácuo, mas está em todo o lugar, escondido, espreitando. Esperando alguém ouvir seu chamado, talvez. Ele grita, exclama, e isso sem fazer-se ver. Ninguém enxerga o som. Entretanto, sabemos que está ali. Como a gente, ele tem a necessidade natural e genética de atenção. Precisa que todos tenham a audição aguçada para que seus dotes não passem despercebidos.
Ele, acima de tudo, precisa usar sua voz.
Tanto a luz quanto o som... Eu os invejo, sabia? Não há nada de pouco singular em sua maestria divina ou nos significados que cada um deles dá para nós. Afinal, somos feitos da matéria destes dois grandes imperadores. Somos criados assim, essa essência corre em nossas veias e em nosso material genético. Seres feitos e moldados pela luz (que faz os olhos nos verem por fora) e pelo som (que expressa o que há lá dentro). Nossos corpos são argila e eles nos manuseiam e nos criam...
Somos então, por analogia, filhos de consoantes e vogais?
Mas não é por isso que os invejo. É pela capacidade exorbitante de não temerem o incandescer ou o berrar. Por não terem medo de desagradar. Eles são o que são. O som pode até ser inseguro, desacreditar um pouco na potência crucial de suas entonações, porém jamais deixaria de cantar suas notas. A luz é o que é — mesmo que pense que seu brilho não é tão grandioso assim, não há sombra alguma que a faça parar. Deveríamos ser mais desta maneira. Deveríamos usá-los como exemplo e bailarmos os meneios da vida sem pavor de sermos o que somos, seja lá o que nós sejamos.
Simplesmente aprendendo a dançar conforme a música.
E, seja lá o que nos prende (uma nuvem escura, a surdez dos desinteressados ou a descrença em nossa capacidade de sermos nosso máximo), que nós possamos dissipar qualquer amarra e enfim nos tornarmos nossas próprias fontes de luz — a melodia que nos pertence.
Porque, pode não acreditar, mas há mais palavras dentro de seu corpo do que carne e osso.  E, lá nos seus recantos, vai encontrar sua música e sua supernova florescendo nas palavras não ditas e transformando-se, quem sabe, numa nova forma de se narrar. 

FIM 
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