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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

[FEITO A MÃO] Correndo dos lobos - Parte IV (Final)

Créditos: http://www.doforneiro.com.br/


A artista aspirante Daniela Araújo é convidada por um velho amigo a comparecer a uma pizzaria.


CORRENDO DOS LOBOS - PARTE IV

Daniela, Guilherme, Inês e Thiago tiveram um pequeno problema no caminho, um bueiro que jorrava a água que subia do esgoto e que se juntava ao asfalto enchido pela chuva. Guilherme usava um sapato que não era aberto, mas encarou o acúmulo e um cone que foi posto ali, “Agora vamos ter que achar outro caminho”. Inês tinha medo de dar um passo na poça enorme formada e fazer algum desastre, “Dá medo com esse buraco”. Daniela apenas não queria passar, “Acho que cabe meu pé inteiro até a canela”. Thiago viu o empecilho, virou a cabeça e deu uma olhada na rua perpendicular e os outros o seguiram ao ver uma parte da rua onde estava menos molhada. Passaram para o outro lado e contornaram o quarteirão.
Mas, hein, Dani continuou Thiago a conversa que tiveram, as preocupações com seu pai ficando em segundo plano na sua mente Você fez bem em não ter dado o que aquele homem queria. Tem um pessoal que não sabe o que fazer.
Olha Inês parou de andar com seus sapatos abertos e altos de gladiadora e encarou Daniela Você pode combinar com qualquer um de nós pra ir com você.
Posso pedir pra meu pai me pegar, não se preocupem disse a garota.
Ela se achava agradecida pelas considerações, mas achava que poderia percorrer as distâncias com a mesma proeza de suas pessoas. “Afinal”, ainda pensaria quando visse a lua da janela de seu quarto e ao rememorar o pensamento, “a cidade é como se fosse um espaço com lobos em bando e lobos solitários. Preciso aprender a me acostumar”. Mas ao mesmo tempo sabia das preocupações genuínas e se questionaria se não deveria manter o orgulho de lado.
Não se mantenham muito perto da rua Thiago alertou Tô vendo alguns carros indo um tanto mais velozes do que os outros. Fiquem mais pra cá.
Você está parecendo minha mãe, falando dessa maneira riu-se Inês.
— Pronto, já estamos aqui no meio — Guilherme declarou, ainda com o braço por baixo do que pertencia a Daniela — Tranquilo agora?
Só eu acho que ninguém ia querer uma lavada na cara, mano Thiago esclareceu.
Ninguém vai levar Guilherme ultrapassou os outros dois e ficou na frente junto com Daniela É só seguirmos nessa direção.
Os quatro se viram diante das portas de vidro, seus reflexos meio transparentes no meio de um ambiente iluminado. Daniela viu seu cabelo molhado e a bolsa pesava com alguns pingos de água saindo, mal vendo a hora de ver a chuva terminar. Inês e Thiago não se atentaram muito aos seus próprios detalhes, seus olhos varando o espaço atrás de uma direção. Já Guilherme se enxergou ainda bastante junto de Daniela, sentiu-se sem graça por perceber alguns olhares curiosos lançados neles dois e se afastou.
Dois garçons recepcionavam do lado de dentro. Famílias e amigos se reuniam dentro do estabelecimento, alguns pra suas reuniões ocasionais e outros apenas para engolir alguma comida gostosa. Outros funcionários, vestidos de aventais pretos e o uniforme cinza e branco da empresa, iam entre as mesas dos dois andares da pizzaria para apresentar sabores diferentes de pizza. E entre os clientes, existia um trio de garotos que conversavam entre si e ao mesmo tempo entretidos em outras conversas pelos seus celulares. Daniela os reconheceu como João Vitor, um rapaz moreno e magricelo que tinha a camisa verde com listras negras, e dois conhecidos deles, os quais ela tentou lembrar os nomes e não conseguiu.
Boa noite uma garçonete os atendeu, quem estava conversando com o vigia do lugar Vocês quatro estão juntos?
Boa noite! E sim, estamos Inês disse, séria sem querer se mostrar séria.
Só que não romanticamente falando, aí nenhum de nós está Thiago abriu sorriso e então deu uma risada bem-humorada, a garçonete retribuindo com um sorriso mal contido.
Guilherme e Daniela se mantiveram em silêncio. Guilherme aliviado por não haver comentários embaraçosos e Daniela por tentar pensar em alguma maneira de se esquentar. Talvez, a misericórdia da chuva tenha sido a aparição de três amigos seus para acompanharem ela, pois, de resto, ela ainda estava ensopada e agradeceu mentalmente por estar de blusa vermelha e calça comprida. Daniela rememorou as palavras de uma de suas avós, falando que “para toda utilidade, sempre trazer roupas extras em uma bolsa e também algumas balas de menta pra casos de emergência” e considerou que era uma opinião plausível, mas que em prática seria talvez exagerado. A garçonete os entregou as “comandas” e eles entraram no estabelecimento já sentindo o ar-condicionado.
  Aí cara João Vitor primeiro cumprimentou Thiago com um aceno de mão achei que hoje você não viria. Não havia aquela apresentação que vocês fariam na praça de alimentação do seu bairro? E seu pai, como está?
Ah, mano, é que nosso baterista ficou doente. O bicho ficou com febre. Tivemos que remarcar para outro dia. O velho está se recuperando, tomando remédios, está ficando melhor a cada dia os dois bateram as mãos Mas aí, ficou quanto tempo esperando aí?
Ele sentou na cadeira, antes de ajudar Inês e Daniela a se sentarem. Vendo a ação, Guilherme não conseguiu reprimir um sorriso que poderia brotar um riso alegre. Era comum que Thiago fizesse isso com as meninas, sem distinção. Um dos garotos, chamado de Matheus, também sorriu e comentou “Que cavaleiro, hein”, também já acostumado com a prática do amigo. Ele e Thiago, então, começaram a conversar sobre a rotina enquanto um garçom com pedaços de pizza de calabresa vinha à mesa. O outro garoto, Heitor, cumprimentou os quatro e voltou à sua conversa com João Vitor sobre o jogo.
Tudo bem falou João Vitor, assentindo a cabeça E como vão vocês, Inês, Daniella, Guilherme? Ô Inês, gostei bastante de seu vestido, ficou bem em você sorriu, bastante satisfeito com a amiga.
Obrigada disse Inês em seu lado, dando um abraço nele e dois beijos em cada bochecha Eu precisava vir em minha melhor versão. E eu vou bem.
Eu vou indo bem também pronunciou-se Guilherme E ei, que horas são? Acho que foi bom o horário ser na verdade oito horas da noite. O trânsito facilitou em nada nossa ida até aqui.
São vinte e sete falou Thiago em uma voz razoavelmente alta, depois de ligar a tela de seu celular e aparecer a foto de seu companheiro canino com a língua de fora Meio atrasados, mas aqui estamos nós encarou seu prato, naquele momento cheio com um farto pedaço.
Está hora de uma foto anunciou Inês com seus olhos brilhando, o braço adentrando em sua bolsa de uma marca bastante conhecida e puxando de lá uma câmera fotográfica   Eu bem poderia fazer uma selfie no meu celular, mas eu queria pra guardar e depois imprimir. Será que algum dos funcionários topa tirar foto? seu olhar recaiu entusiasmado sob uma mulher que estava arrumando e limpando as mesas das pessoas que saíam do estabelecimento.
Quando interrogada se queria um pedaço de calabresa, Daniela não aceitou por não se achar em um estado de comê-lo. Guilherme, quem se sentou no seu lado da mesa, também negou por não gostar de calabresa e por dar atenção à Daniela parecendo desconfortável. Daniela estava se segurando o como podia de modo que não pudesse preocupar os seus amigos na sua volta, mas, devido à “lavada” da chuva, tinha a sensação térmica de muito, muito frio. Guilherme não fora o único a notar o desconforto: João Vitor e Heitor, ambos fãs de Capitão América (tinham visto todos os filmes até então e já se aprofundavam nas comics), iam falando com ela sobre as pinturas quando observaram que ela tentava se cobrir o máximo que podia com suas mãos pequenas. Uma sensação de desconforto começava a se instalar na garganta dela, o que viria a ocasionar um resfriado horas depois.
Daniela Guilherme falou, o olhar não escapando dela e o humor entre retrucar sobre quanto era idiota ela não falar que não estava bem e o de não querer machucar os sentimentos da garota mais ainda você está bem?
Olhos escuros se encontraram com olhos claros. A mesa fazia silêncio.
Só tô sentindo muito frio e tampou a mão com a boca.
Desculpa eu dizer isso, mas isso tá bem na cara Matheus comentou e recebeu um olhar de cumplicidade de Inês e um de advertência de João Vitor Na próxima, só não esquecer de levar uma bolsa maior e de um guarda-chuva também.
Pode deixar que eu me lembro ela falou com a voz baixa, mas não desanimada.
Se não me engano a mão de Guilherme alcançou a própria bolsa que levara nas costas, uma que ele trazia consigo toda vez quando ia sair eu devo ter um casaco de frio por aqui.
Hum, o que você leva mesmo nessa bolsa, Gui? quis saber João Vitor em ar brincalhão e contente por ver os dois amigos se reaproximarem. Ele achou que levaria um pouco mais de tempo, devido aos problemas de Guilherme com temperamento. O que, conhecendo a família dele, era hereditário.
Nada de interessante retrucou ele, como Thiago e Inês se uniram para debater o que havia dentro da bolsa, entre as possibilidades sendo “pedaços de corpos” ou “um uniforme especial”.
Daniela, por sua vez, ficou surpreendida pelo gesto amistoso entre ela e Guilherme, sentindo-se grata pelos cuidados e pensando na visita que faria à avó no dia seguinte. Já Guilherme direcionou um olhar para a lua, aliviado que não era a lua cheia que, segundo suas crenças, poderia atrapalhar o que falaria com a menina. Tudo terminou bem e todos foram contentes do estômago para casa.
FIM?
Tem desenho, tem música, tem conto, tem poema e deseja mostrar sua arte e literatura com a gente no blog? Não deixe de enviar para nosso e-mail contatonra@gmail.com =)


Nota: Oi, aqui é a Lucie! Espero que tenham gostado de "Correndo dos lobos", meu novo filhotinho! Esclarecendo aqui a razão do título, eu estava ouvindo uma música da Aurora ("Running with the Wolfes") que me fez aleatoriamente escrever "Correndo dos lobos" e depois, pensando melhor no sentido da expressão (eu interpretei "Correndo com os lobos" como se arriscar dentro da sociedade), eu quis trocar, mas eu mantive o título original devido à Daniela tentar fugir de questões que são geradas por outras pessoas, ao mesmo tempo que ela as enfrenta. No sentido que ela se referiu aqui (imagino ela tendo gosto por expressões que usam a metáfora), ela também seria um "lobo". Lobos, entre suas características ressaltadas pela imaginação humana, são vigilantes. Há um segundo sentido que pode ser pensado da história curta, dependendo do que o leitor acreditar =) É isso aí e até o próximo texto!


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